WEB ARTISTA de Julho:

JOEL Weishaus/ USA

weishaus.jpg

Breve Biografia:

Aos 19 anos, Joel Weishaus era um Executivo Jr. para uma agência de publicidade em New York, uma posição que ele deixou logo após o seu 21º aniversário. In 1964, ele mudou-se para San Francisco Bay Area, onde ele atuou no Departmento de Linguagens Orientais na University of California, Berkeley. Por dois anos, ele foi o Editor Literário do jornal dos estudantes, e também ajudou a construir um teatro experimental no San Francisco’s Haight-Ashbury District. Durante o final dos anos 60 e o início dos 70, Weishaus viajou para o Japão para visitar monastérios Zen Budistas, editou On the Mesa: An Anthology of Bolinas Writing (City Lights Books, 1971), e traduziu Oxherding: A Reworking of the Zen Text (Cranium Press, 1971). 1973-1974: Depois de um ano como hermitão numa cabana na montanha, mudou-se para Cambridge, Massachusetts, onde foi residente no Cambridge Zen Center. Retornou para San Francisco por dois anos para estudar várias terapias de funcionamento do corpo, e Aikido; então, em 1977, mudou-se para Taos, New Mexico, para uma residência de nove meses como escritor na Helene Wurlitzer Foundation. Em Santa Fé, editou Thomas Merton’s Woods, Shore, Desert, e passou um período de quatro anos fazendo esculturas. Em 1982, vivendo em Albuquerque, Weishaus tornou-se Curador Adjunto (Vídeo Arte) no Museu de Artes Plásticas da University of New Mexico , escreveu artigos sobre fotografia para Artspace: A Magazine of Contemporary Southwest Art, e foi escritor residente no UNM’s Center for Southwest Research. Desde Maio 2000, tem vivido em Portland, Oregon, onde é Visiting Faculty na Portland State University, Departmento de Inglês. Seu último livro, The Healing Spirit of Haiku, em co-autoria com Texas A&M University’s McMillian Professor of Analytical Psychology, David H. Rosen, e ilustrado por Arthur Okamura, será publicado pela North Atlantic Books em outubro de 2004.

Arquivo impresso: http://elibrary.unm.edu/oanm/NmU/nmu1%23mss456bc/

 

Trabalho Digital Passado:

No início dos anos 90, tive que preparar uma série de poemas em prosa, agora intitulados "The Deeds and Sufferings of Light," (As Ações e Padecimentos da Luz) para um show no Albuquerque Museum. Como o museu exigiu um disquete, comprei meu primeiro computador. Depois de trabalhar com ele ao longo de um fim de semana, soube que o futuro da minha atividade como escritor estaria ligado naquele instrumento. Em seguida escrevi uma autobiografia hyperlinked, "Reality Dreams," (A realidade Sonha) então, com o desenvolvimento do software, fiz alguns pequenos trabalhos digitais, que levaram ao projeto de cinco anos , "Inside the Skull-House," (Dentro da Caveira-Casa) e o recentemente terminado "The Silence of Sasquatch." (O Silêncio do Sasquatch)

Arquivo digital: http://www.cddc.vt.edu/host/weishaus/index.html

 

Técnicas:

Quando terminei "Reality Dreams" eu estava lendo a teoria que havia sido traduzida do Francês, particularmente Barthes, Deleuze, e Derrida; então invoquei o que eu chamo "invaginações," que são fragmentos de citações que se movem dentro e fora de uma oração, de repente impondo os pensamentos de outros nos meus, criando uma interrupção e logotipos instáveis. A princípio eu planejei introduzir fontes menores e menores, cada uma dentro da outra, até que fossem indecifráveis. Mas, dada a resolução dos monitores presentes, isto provou ser impraticável. Deste modo eu conformei-me em descer dois espaços, entretanto, na maioria dos projetos, eu uso só um.

Escolhi continuar a usar hyperlinks mais ou menos "tradicionais" como o meu meio principal de transporte, porque esta estratégia tem se estabelecido em escrita digital tão solidamente quanto a sintaxe na oração.

Para imagens decidi começar com GIF animadas, em vez de Flash. Fiz assim porque gosto mais da baixa tecnologia das GIFs, do que das transições do Flash. Também não quero que os leitores tenham que fazer o download do Flash player para ver o meu trabalho. Também, mantendo o software simples, o trabalho é mais seguro de ser acessado com as mudanças de tecnologia.

 

 

"Traces of the Catacombes" (Rastros das Catacumbas):

Traces of the Catacombes" aconteceu quando li o ensaio de Claude Gandelman, "Torn Pages of Deconstruction: The Palimpsests of Mireille W. Descombes." A técnica do Descombes de rasgar e cortar em tiras jornal como uma metodologia desconstrutiva, sua violência e destruição, "uma ‘deconstrução, '" diz Gandelamn, não interessou-me. Mas a morte e a decomposição interessaram. Como um artista vivo, só podia ver de fora as conseqüências da morte, e, como não existe nenhuma solução em vista para o fato de sermos efêmeros, construí artesanalmente este projeto com uma sensação de humor seco.

O palimpsesto de Descombes, junto com seu pensamento sobre "uma série fragmentária de quase-palavras (isto) desmorona em uma 'massa' densa de Memória…" deu a mim direção, e seu nome imaginou as catacumbas romanas—existem catacumbas debaixo de Paris, também--, e, mais atrás, as cavernas Paleolíticas na França e na Espanha. Então foi por aí que comecei.

 

gallery.jpg (23520 bytes)

O primeiro "link" está na Introdução, uma imagem de um esqueleto em um túnel, como o início sempre incorpora seu fim. Existe uma citação de Descombes, invaginada com um fragmento de livro extraordinário do Christopher Bache, Dark Night, Early Dawn (Noite Escura, Primeiro Amanhecer), que é sobre a pesquisa científica mais recente em reencarnação. Próximo eu projetei um mapa que abre um labirinto de abóbadas, cada com sua própria estética. Estes são ligados um ao outro, inclusive um "beco sem saída." Não existe nenhum centro. Muito deste trabalho é animado, e funciona como um tipo de trocadilho.

https://archive.the-next.eliterature.org/museum-of-the-essential/weishaus/weishaus/intro.htm

Joel Weishaus
http://web.pdx.edu/~pdx00282
weishaus@pdx.edu


QUARTA RESENHA COLABORATIVA


1- À luz do sol está a realidade?...

Por Regina Célia Pinto

Resenha sobre
Traços das Catacumbas de Joel Weishaus

Se as coisas que tenho a dizer sobre "Traços das Catacumbas" de Joel Weishaus estiverem todas pela metade, podendo soar insignificantes aos ouvidos de outra pessoa, é porque evidentemente não sou crítica literária. Sendo assim, peço paciência para aqueles que se aventurarem na leitura dessa resenha.

Na verdade durante três dias estive imersa na tradução desse hipertexto que já havia lido anteriormente, mas sem a determinação de traduzi-lo para o português. A tradução nos obriga a uma leitura muito mais cuidadosa e, por isso mesmo, mais envolvente. Dessa forma, o que tenho para dizer é que estou de volta (?) das cavernas e das catacumbas. No momento imediatamente posterior ao término do trabalho, recordando Platão, senti que o que havia visto por lá era mais verdadeiro do que essa minha caverna / escritório / quarto onde o sol da manhã entra pela janela. Será ainda à luz do sol que está a realidade?...

Para você pode entender o que quero dizer, mergulhe nesse hipertexto. Primeiramente faça uma visita a página web:

https://archive.the-next.eliterature.org/museum-of-the-essential/weishaus/weishaus/intro.htm ;

verifique o design - soturno, como deve ser uma caverna / catacumba. Aventure-se a caminhar pelas galerias das catacumbas, não tenha medo das ossadas, clique nas caveiras, arrepie-se...

"E silêncio. Nenhum som. Nem o ruído de uma gota caindo. Nada. N-A-D-A! Nunca experimentei alguma coisa assim. Você não tem que fechar os seus olhos. Você não tem que ouvir qualquer coisa. A tumba de um homem é um outro refúgio do homem. Não sei quanto tempo nós estivemos daquele jeito." (Joel Weishaus, Traços das Catacumbas)

"As leis da narrativa ficcional, em sua ampla diversidade, são muito complexas, e, assim, contraditórias, paradoxais e muito variáveis, Deste modo, afirmar alguma coisa sobre uma dada narrativa pode ser pouquíssimo ou nada aplicável em relação a outras. Ao constatar isso como verdade, podemos perceber que um narrador é sempre único, assim como a narrativa que sua voz, seu olhar e sua linguagem produzem." (1)

Walter Benjamin (2), nos apresenta três possibilidades principais de narrador. Na primeira delas, a narrativa como "processo artesanal", oriundo da superposição de "camadas finas e translúcidas das narrações sucessivas". Encontramos essa superposição de camadas durante todo o tempo em que estivemos "passeando" nas catacumbas. Sendo que são camadas altamente eruditas, fato que se deriva da cultura de Weishaus. Traços das Catacumbas é um texto / campo arqueológico, e ao leitor / arqueólogo cabe o papel de ir desenterrando as idéias nas diferentes camadas narrativas.

Em segundo, o narrador 'moderno', que narra a experiência individual, própria:

"Embora eu não esteja ainda seguro que a reencarnação é um fato, talvez porque eu esteja alcançando um ponto onde a minha morte me espreita de um canto, eu estou aberto a estudar esse assunto, e existe pesquisa contemporânea interessante para ser feita sobre ele." (Joel Weishaus, Traços das Catacumbas)

A seguir, Benjamim insinua um narrador jornalista, que cuida da experiência enquanto informação.

"Em 1987, Ian Stevenson, um emérito professor na Universidade de Virgínia, publicou, Children Who Remember Previous Lives (Crianças que Lembram de Vidas Prévias). Para esse livro, Stevenson estudou crianças de várias regiões do mundo que, por volta dos três ou quatro anos de idade, espontaneamente falaram de ter tido uma vida antiga." (Joel Weishaus, Traços das Catacumbas)

No discurso narrativo atual, a imagem da escrita transformou-se, deixando de ser a da inserção única e passando a ser a imagem de um conjunto de textos paralelos, fato que revela um quadro referencial distintamente pós-estruturalista. Assim também é o texto de Weishaus:

"No mito da Polinésia, Ta'aroa o criador do universo, senta em sua concha na escuridão da eternidade. A concha era como um ovo revirando-se num espaço sem fim."

O Ovo Cósmico é chocado, aquecido por tapas, um "estoque de energia concentrada ...empregada para os propósitos da criação. O deus-criador aquece a si mesmo e assim produz o universo."


Humpty Dumpty foi um grandioso grande ovo, e mestre das palavras, para quem as palavras significavam não mais do que preencher todo o 'texto,' ou cenário vital, inconscientemente dava a todas elas a mesma reescrita - assim fazendo sempre o sagrado e o profano serem o que ele queria que siginficasse.
Um dia Humpty levou um grande tombo, e ninguém pode colocá-lo junto novamente.."
(Joel Weishaus, Traços das Catacumbas)

Por hora concluímos que Weishaus é um autor único em sua multiplicidade.

À luz do sol fica a realidade?... Talvez não, minha caverna é confortável, tem segurança, televisão, vídeo, telefone, computador, acesso à Internet,...Um autêntico paraíso onde o real é esse simpático conjunto caótico de fragmentos com que me defronto diariamente (3), entre eles num dia de muita sorte me tele-transporto para as catacumbas / cavernas / hipertexto de Joel Weishaus.

Obrigada Joel!

Em ordem de aparecimento:

PINTO, Sílvia Regina. Desmarcando Territótios Ficcionais: Aventuras e Perversões de um Narrador, in Armadilhas Ficcionais, Modos de Desarmar. Rio de Janeiro, Sete Letras, 2003.

BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas (vol.1) Magia e Técnica. Arte e Política, 6 ª edição. São Paulo, Editora Brasiliense, 1993.

KONDER. Leandro. O Mito da Caverna Hoje. Artigo no Jornal O Globo, Rio de Janeiro, 2001.


2- A única realidade previsível e algumas considerações sobre Inês de Castro

Por Alice Gabriel

 

Prezada Regina,

Não sei se estou a enxergar coisas, mas, após ler com admiração o hipertexto de Joel Weishaus e a última mensagem que nos enviou, sobre esse mesmo hipertexto, não me abandona a mente essa parte dela:

"À luz do sol fica a realidade?... Talvez não, minha caverna é confortável, tem segurança, televisão, vídeo, telefone, computador, acesso à Internet,...Um autêntico paraíso onde o real é esse simpático conjunto caótico de fragmentos com que me defronto diariamente, entre eles num dia de muita sorte me tele-transporto para as catacumbas / cavernas / hipertexto de Joel Weishaus."

Bem sabes que também cá estou em minha própria caverna. Atualmente, abandono pouco esse meu refúgio tecnológico, e, devo confessar, que terrível é a
minha realidade nos dias em que me deparo com um "blackout"... Sendo assim, imediatamente me identifiquei com esse pensamento e comparando o texto de Weishaus e, o final de sua resenha, percebi que talvez você também estivesse se referindo à morte - que no final das contas, de nossas expectativas de
vida, é a única realidade previsível e da qual não escapamos. E, é uma realidade, ao que me parece, bem distante da luz solar, pelo menos do Sol que conhecemos como Sol ...

"A tumba de um homem é um outro refúgio do homem."(Joel Weishaus)

No Mosteiro de Alcobaça, em Portugal, defrontam - se os túmulos de Inês de Castro e de Dom Pedro I, para que a primeira imagem que cada um tenha no dia de sua ressurreição seja a imagem do outro e do imenso amor que tiveram em vida. Ah, o romantismo dos lusitanos!... Para quem não conhece a história, Inês de Castro era filha de um fidalgo galego. Foi uma das damas que acompanharam D. Constança quando esta veio para Portugal para casar com D. Pedro, futuro D. Pedro I, filho de D. Afonso IV. Este apaixonou-se por D. Inês, de quem teve filhos, e, segundo algumas fontes, declarou ter casado com ela, secretamente, já após a morte de Constança.

O amor de D. Pedro I e D. Inês suscitou forte oposição por motivos de ordem política. Temia-se que D. Fernando (filho de D. Pedro I e D. Constança) fosse afastado do trono, tornando-se herdeiros da coroa os filhos de D. Inês. Dom Afonso IV, pai de Dom Pedro I mandou então degolar Inês de Castro. D. Pedro I coroou Inês de Castro depois de morta, sendo que ele também perseguiu e executou barbaramente os carrascos de sua amada.

A universalidade e intemporalidade da tragédia da morte inocente face à mesquinhez dos interesses humanos, têm garantido à figura de D. Inês uma resistência ao tempo e possibilitado uma atualização permanente, em termos estéticos, dos meios de contar a sua história. Muitos autores têm feito narrativas sobre esse tema, entre eles, o nosso magnífico Luiz de Camões, nos Lusíadas (Canto III, 118 a 135), Episódio de Inês de Castro:

118

Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.

120

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.

Weishaus escreveu sobre "Reencarnar a palavra":

" Aqui as catacumbas não armazenam uma compilação de cadáveres, conhecidos ou anônimos, mas são como uma infinita rede animada 'gravada com palavras
que definem um universo de possibilidades' , um continuum..."
(Joel Weishaus)

Não poderíamos considerar também como reencarnação cada uma das narrativas sobre o drama de Inês de Castro? E quanto ao poema "Os Lusíadas", não estaria ele próprio reencarnando cada vez que alguém o lê e descobre a sonoridade de seus versos?


3- COMENTÁRIO RÁPIDO

por Marcelo Frazão

Regina,

Gostei muito do texto que você traduziu! É uma aula! E também dos comentários na resenha! Apreciei quando você disse que estava de volta das cavernas! Literatura, para mim, é a mais antiga forma de interatividade. Ela ainda é mais poderosa e completa que os recursos que o computador pode oferecer.
Enquanto o gênio humano for capaz de criar, a literatura será sempre a mesma preciosa e boa arte.
E quer forma melhor de interatividade, do que as viagens e criações que cada um faz em cima das palavras escritas?

Marcelo Frazão


O que será Literatura Eletrônica?

Por Regina Célia Pinto

O livro impresso me parece ser até agora o formato mais prático de publicação de textos diversos. O contraste entre o livro que carregamos conosco, familiar, que pode ser lido na rua, no ônibus ou no metrô, e o computador, mesmo portátil, indica duas relações corporais muito diferentes com o texto. De um lado, a proximidade do objeto, folheado, anotado, disponível. De outro, a mediação do teclado, o peso do aparelho, o desconforto da leitura. A maioria das pessoas de mais idade é, hoje, incapaz de ler uma tela de computador na mesma velocidade que um adolescente. Mas, adolescentes envelhecem e os mais idosos se vão... Então, chegaremos num tempo em que todos lerão a tela do computador com igual rapidez....

"Uma catedral medieval era uma espécie de programa de TV imutável e permanente pressupondo dizer às pessoas tudo o que fosse indispensável para seu cotidiano bem como para sua salvação eterna através de imagens." Com a invenção da imprensa e do texto impresso isso se modificou e o livro tomou posse do seu lugar.

"Nos anos 60, Marshall McLuhan escreveu sua "A Galáxia de Gutenberg", onde anunciava que a maneira linear de pensar instaurada pela invenção da imprensa estava para ser substituída por uma forma mais global de percepção e compreensão através de imagens de TV ou outros tipos de dispositivos eletrônicos."

No computador rolam palavras, linhas e, para usar um computador, você deve ser capaz de escrever e ler. O computador nos fez retornar à Galáxia de Gutenberg na medida em que se opõe à televisão e ao cinema onde as imagens são maioria esmagadora. A tela do computador é também uma tela de texto. Os computadores tornarão os livros obsoletos? E os computadores tornarão obsoletos o material escrito e impresso? Não acredito: o computador apenas cria novos modos de produção e difusão de documentos impressos.

O que será então Literatura Eletrônica?

Uma aposta na facilidade de divulgação de textos através da rede, segundo os padrões do texto impresso? Textos assim, quando chegam ao computador de alguém possibilitam duas formas de comportamento, a leitura na própria tela ou a sua impressão e posterior leitura, sendo que em ambos os casos, a participação do leitor deve ser a mesma que no livro impresso, uma relação de imersão e imaginação. Sem dúvida esse é um aspecto importante da literatura eletrônica atual, e que não pode ser deixado de lado.

Porém, antes da invenção do computador, "os poetas e narradores já sonhavam com textos abertos onde os leitores poderiam infinitamente reescrevê-los em diferentes formas. Essa era a idéia de O Livro, exaltado por Mallarmé; Joyce imaginou seu Finnegans Wake como um texto que poderia ser lido por um leitor ideal acometido por uma insônia ideal." Isso se tornou realidade com o computador. Os hipertextos nos permitem inventar novas escrituras de textos. Um romance hipertextual, multimídia e interativo nos permite praticar intuição e liberdade. Um outro tipo de leitura e relação com a Literatura.

Qual dos dois é mais importante, ou qual dos dois poderá ser categorizado como Literatura Eletrônica? Provavelmente os dois, ambos são importantes em
suas diferentes especificidades. A escolha fica por conta das preferências do leitor e do Autor.

Em qual das duas categorias se situa "Traços das Catacumbas", de Joel Weishaus? Talvez na interseção das duas? - Essa narrativa além de permitir liberdade e intuição, também nos conduz a imersão e a imaginação... Uma terceira categoria então? Possivelmente a mais Literatura Eletrônica das três? Ao mesmo tempo, precisando saber se o valor do hipertexto continuaria o mesmo fora da arquitetura onde foi programado, imagino o texto de Weishaus em formato de livro impresso ou arquivo pdf. Seria ele tão interessante quanto na sua versão hipertexto? O que tento realmente decifrar é se em "Traços das Catacumbas" o conteúdo pode ser libertado de sua forma, incluindo nessa última a navegação programada pelo Autor... Não consigo chegar à nenhuma conclusão, precisaria do livro impresso em minhas mãos... Penso e repenso e concluo que a melhor definição para Literatura Eletrônica está mesmo no hipertexto de Weishaus:

... uma infinita rede animada "gravada com palavras que definem um universo de possibilidades ", um continuum que alcance aonde Deus não é um dado, e nossa espécie está novamente no começo de se transformar em algo mais.

Bibliografia:

CHARTIER, Roger. Leitor também é autor. Rio de Janeiro, Jornal O Globo, Prosa e Verso, 10 de julho de 2004.


ECO, Umberto. Tradução, para a Língua Portuguesa Falada no Brasil, da Conferência From Internet To Gutenberg .
(http://www.inf.ufsc.br/~jbosco/InternetPort.html )


RUCH, A.B. Review of The Secret Books: Writings by J.L. Borges. Photographs S. Kernan. Chicago, 1999.
(http://www.themodernword.com/borges/)


Foto por Faye Powell
Vista de Portland, Oregon, USA, onde Weishaus vive.