2001, UMA ODISSÉIA NO CIBERESPAÇO

Regina Célia Pinto

 

ANIMA : [LAT., 'SOPRO'; 'ALENTO', 'ALMA'.
ANIMAÇÂO: [DO LAT. ANIMATIONE.]

Ato ou efeito de animar(-se); Manifestação de vivacidade, energia; Atividade, movimentação, rebuliço; Alegria, entusiasmo:;
A arte, ou a técnica, de animar desenhos ou bonecos, que consiste em fotografar em seqüência uma série de imagens, feitas de sorte que, ao ser projetado o filme, figuras e objetos se movam como na ação ao vivo.
Efeito de animação obtido por meio de recursos de computação gráfica usado em produção cinematográfica, televisão, mídia digital, etc.

A ARTE SEMPRE PROCUROU O MOVIMENTO... a ANIMA !

Ao longo da História da Arte, os artistas de diferentes tempos, espaços ou períodos tentaram representá-lo (a), através da mimesis ou da abstração. Leonardo chegou a inventar máquinas... (interesse do engenheiro ou do artista?). Existe também uma lenda que diz que Miguel Ângelo ao terminar uma de suas esculturas teria dado uma leve martelada no seu joelho e dito: "_Parla!". Verdadeira ou não, quem já teve o privilégio de observar o teto da Capela Sistina ou as imagens que o artista parece libertar do cerne das pedras em Florença, terá a idéia precisa do que a lenda quer nos transmitir.
Nos séculos XIX e XX, com o surgimento da fotografia e do cinema, que representavam a vida e o movimento de forma absolutamente mimética, a Arte "levou um susto" e se modificou, dando origem a todos os "ismos" do início do século XX. E, apesar da ausência da representação fiel da realidade, a "anima" continuou exercendo seu poder, através da movimentação, da energia e dos sentimentos sempre presentes na Arte deste século recentemente findo.


A entrevista que o Senhor Adalton Lopes, artista popular brasileiro, concedeu à nossa revista ratificou essas questões. Este artista, de origem humilde e que passou longe de qualquer escola de arte, cria artesanal e mecanicamente (ou seria um processo quase científico (?) levando-se em consideração as questões que ele está sempre se propondo), impressionantes cenas animadas. Conta-nos o Senhor Adalton:


- Com cinco anos eu já brincava com barro. Naquele tempo eu já me preocupava em dar movimento aos objetos que modelava. Utilizava até formigas para conseguir o que desejava. Contudo um dia imaginei que para conseguir movimentar meus bonecos de forma perfeita teria que usar sangue, acreditava que era ele que fazia os seres vivos se movimentarem. Tinha uns sete anos nessa época. Consegui sangue de um frango e coloquei na forma do boneco. No dia seguinte, para minha decepção, o barro havia apodrecido. Meu pai me explicou então que para eu conseguir o que queria teria que utilizar um motor.

Nas minhas próprias recordações da infância figuram o "Pinóquio" criação de Gepeto, através da literatura de Collodi e, também um outro livro, do qual nem o nome recordo e que por muito tempo me fascinou: era a história de um lápis maravilhoso que tinha o poder de fazer desenhos que criavam vida. Reencontrei recentemente esse fascinio ao iniciar o trabalho de animação no computador.


A história de "Pinóquio", vem se repetindo em diferentes circunstâncias, desde "Metrópolis" de Fritz Lang, passando por 'Blade Runner" de Ridley Scott até os dias de hoje, quando Spielberg está lançando o filme "I. - inteligência artificial" , baseado numa história de Stanley Kubrick, que representa a lenta evolução de uma máquina que finge ser humana até um ser humano que, um dia, foi máquina.


O SÉCULO XXI E A CONJUNTURA ARTE / CIÊNCIA

Tanto a robótica como todas as formas de Arte & Tecnologia serão as linguagens artísticas do século XXI. Essa aposta é feita na premissa de tudo que já foi dito anteriormente e que se pode reduzir a uma questão somente: a busca incessante da ANIMA, do poder do demiurgo! O fato é que com as tecnologias digitais e a internet e, com o fácil acesso a elas por parte do artista, ficou muito mais fácil para ele perseguir o antigo sonho de criar "movimento" , interação e... vida.


É preciso enfatizar porém a urgência para que nas escolas de arte se invista mais na formação científica (sem deixar de lado a formação artística, é lógico). Um ambiente de formação que integre essas duas diretrizes é um fator essencial para que as novas linguagens se desenvolvam com o cuidado e apoio que merecem, facilitando assim o entendimento e a aceitação por parte de todos e evitando posições de dúvida do espectador e ansiedade por parte de quem trabalha com essas linguagens hoje. Exemplifica bem essa situação a pergunta que surgiu na lista WEB ARTERY (fórum onde artistas, pensadores e teóricos do mundo inteiro trocam suas experiências e ansiedades a respeito de Arte & Tecnologia):

- Estaria a arte na web ocupando um território fora das fronteiras normais da arte? Ou excluída do mundo da arte? Ou seria alimentada pelo mundo da arte?


As mutações maquínico-poéticas, entendidas no seu sentido mais amplo, não deveriam mais desencadear em nós reflexos de defesa, crispações passadistas...

"A enorme quantidade e diversidade de trabalhos de arte criada especialmente para a Internet é um reflexo do meio. Em todas as partes do mundo é possível encontrar inúmeros usos insólitos, não-convencionais ou artísticos que utilizam conceitos que rompem com as expectativas do usuário da Web ou oferecem algum tipo de contemplação estética ou narrativas complexas em suas criações. É certo que nem tudo que é insólito ou pouco convencional pode ser considerado como Web Arte, mas certamente, todo experimentalismo que aparece na rede é um caminho para o surgimento de novas experiências que podem vir a ser legitimadas como trabalhos de arte. Por outro lado, a Internet é extremamente dinâmica: outros muitos são excluídos e periodicamente surgem novos programas e scripts que proporcionam novas possibilidades de criação para a rede."

(Fábio Oliveira Nunes "Três Categorias da Web Arte" ( http://webartenobrasil.vila.bol.com.br )

Ao nosso ver a Arte iniciou em "2001, uma odisséia no ciberespaço", e, num futuro não muito distante, provavelmente muitos artistas, estarão criando suas "máquinas fantásticas" , como a que foi descrita por Bioy Casares no livro de mesmo nome, descrito como perfeito por Jorge Luís Borges.